002- Espiritismo e Espiritualismo

1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA DOUTRINA ESPÍRITA - O LIVRO DOS ESPÍRITOS - ALLAN KARDEC

Para as coisas novas necessitamos de palavras novas, pois assim exige a clareza de linguagem, para evitarmos a confusão inerente a múltiplos sentidos dos próprios vocábulos. As palavras "espiritual, espiritualismo, espiritualista" têm uma significação bem definida; dar-lhes outra, para aplicá-las à Doutrina dos Espíritos, seria multiplicar as causas já tão numerosas de anfibologia. Com efeito, o espiritualismo é oposto ao materialismo; quem quer que acredite haver em si mesmo alguma coisa além da matéria é espiritualista; mas não se segue daí que creia na existência dos Espíritos ou em suas comunicações com o mundo visível.

Em lugar das palavras espiritual e espiritualismo, empregaremos, para designar esta última crença, as palavras "ESPÍRITA e ESPIRITISMO", nas quais a forma lembra a origem e o sentido radical e que por isso mesmo têm a vantagem de ser perfeitamente intelegíveis, deixando para espiritualismo a sua significação própria. Diremos, portanto, que a Doutrina Espírita ou o "ESPIRITISMO" tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Os adeptos do Espiritismo serão os "ESPÍRITAS", ou se o quiserem, os "ESPIRITISTAS".

Como especialidade, o Livro dos Espíritos contém a Doutrina Espírita; como generalidade, liga-se ao Espiritualismo, do qual representa uma das fases. Essa a razão por que traz sobre o título as palavras: "Filosofia Espiritualista".

2 - O QUE É O ESPIRITISMO? ALLAN KARDEC

Pergunta: Eu vos perguntaria, primeiro, que necessidade haveria de criar as palavras novas de "espírita, Espiritismo" para substituir as de Espiritualismo, espiritualista, que estão na linguagem popular e compreendidas por todo o mundo? Já ouvi alguém tratar essas palavras de barbarismos.

ALLAN KARDEC: A palavra espiritualista, desde muito tempo, tem uma significação bem definida: é a Academia que no-la dá: ESPIRITUALISTA é aquele ou aquela cuja doutrina é oposta ao materialismo. Todas as religiões, necessariamente, estão baseadas no Espiritualismo. Quem crê haver em nós outra coisa além da matéria, é espiritualista,o que não implica na crença nos Espíritos e nas suas manifestações. Como vós o distinguiríeis daquele que o crê? Precisar-se-ia, pois, empregar uma perífrase e dizer: é uma espiritualista que crê ou não crê, nos Espíritos.

Para as coisas novas, é preciso palavras novas, se quer evitar equívocos. se eu tivesse dado à minha REVISTA a qualificação de Espiritualista, não lhe teria de, modo algum, especificado o objeto, porque, sem faltar ao meu título, poderia não dizer uma palavra sobre os Espíritos e mesmo combatê-los. Eu li, há algum tempo em um jornal, a propósito de uma obra filosófica, um artigo onde se dizia que o autor o havia escrito sob o ponto de vista espiritualista.

Ora, os partidários dos Espíritos ficariam singularmente desapontados se, na confiança dessa indicação, tivessem acreditado nela encontrar a menor concordância com suas idéias. Portanto, se adotei as palavras 'ESPÍRITA e Espiritualismo, é porque elas exprimem, sem equívoco, as idéias relativas aos Espíritos. Todo "ESPÍRITA" é, necessariamente, espiritualista, sem que todos os espiritualistas sejam espíritas. Fossem os Espíritos uma quimera e seria ainda útil existirem termos especiais apra aquilo que lhes concerne, porque são necessárias palavras para as idéias falsas como para as idéias verdadeiras.

Essas palavras não são, aliás, mais bárbaras que todas aquelas que as ciências, as artes e a indústria criam cada dia. Elas não o são, seguramente, mais que as que Gall imaginou para sua nomenclatura das faculdades, tais como: secrétivité, amativité, combativité, alimentivité, affectionivité, etc. Há pessoas que, por espírito de contradição, criticam tudo que não provém delas e desejam aparentar oposição; aqueles que levantam tão miseráveis contestações capciosas, não provam senão uma coisa: a pequenez de suas idéias. Prender-se a semelhantes bagatelas é provar que se tem pouco de boas razões.

Espiritualismo, espiritualista, são as palavras inglesas empregadas nos Estados Unidos desde o início das manifestações: delas se serviu, primeiro, por algum tempo, na França. Mas, desde que apareceram as palavras "ESPÍRITA e ESPIRITISMO", compreendeu-se tão bem sua utilidade, que foram imediatamente aceitas pelo público. Hoje o uso delas é de tal modo consagrado, que os próprios adversários, os que primeiro as apregoaram de barbarismo, não empregam outras. Os sermões e as pastorais que fulminam contra o Espiritismo e os espíritas, não poderiam, sem confundir as idéias, lançar anátema sobre o Espiritualismo e os espiritualistas.

Bárbaras ou não, essas palavras doravante passaram para a linguagem popular e em todas as línguas da Europa. Só elas são empregadas em todas as publicações, pró ou contra, feitas em todos os países. Elas formam o sustentáculo da nomenclatura da nova ciência; para exprimir os fenômenos especiais dessa ciência, foram precisos termos especiais. O Espiritismo tem, de hoje em diante, sua nomenclatura, como a química tem a sua.

As palavras Espiritualismo e Espiritualista, aplicadas às manifestações dos Espíritos, não são mais empregadas hoje, senão pelos adeptos da escola dita americana.

3 - A PRÁTICA MORAL ACIMA DAS CONVENÇÕES - NOÇÕES GERAIS DE ESPIRITISMO - PÚBLIO CARÍSIO DE PAULA

Toda doutrina ou religião que se apoia na imortalidade da alma é espiritualista. O espiritualismo segundo o dicionário é a Doutrina que admite, quer quanto aos fenômenos naturais, quer quanto aos valores morais, a independência e o primado do espírito com relação às condições materiais, afirmando que os primeiros constituem manifestações de forças anímicas ou vitais, e o segundos criações de um ser superior ou de um poder natural e eterno, inerente ao homem. São espiritualistas os seguidores do Bramanismo, do Budismo, do Confucionísmo, do Xintoísmo, do Judaísmo, do Islamismo e do Cristanismo.

ASPECTOS PRÁTICOS DO ESPIRITISMO: Toda ciência, filosofia ou religião historicamente, quando sai do campo teórico para o prático, corre o risco de ser mal exercida. A prática irregular da teoria pode levar a uma má interpretação dos objetivos e metas da seita. Com o Espiritismo não é diferente. Devido ao grande número de seitas espiritualistas e outras tantas que têm a mediunidade como prática usual, muitas pessoas confundem-nas com a Doutrina Espírita.

Os cultos brasileiros da Umbanda têm seus próprios princípios claramente expostos em literatura específica e não podem ser associados ao Espiritismo. O Candamblé e outros cultos, igualmente herdados de outros povos do continente africano não têm nenhuma associação com a Doutrina codificada por Allan Kardec. Outras manifestações orientais o do Caribe, não têm nenhuma ligação direta com o Espiritismo. Todas as aqui mencionadas, naturalmente são nobres e têm suas manifestações resguardadas pelo direito e liberdade de profissão de fé, no entanto, devem ser vistas como independentes do assunto de que se trata essa obra.

Quando ocorra que leiamos diante de um templo a seguinte inscrição "Centro Espírita de Umbanda fulano de tal ou Tenda Espírita de Candomblé X, é ideal que compreendamos a possibilidade de engano quanto à nomenclatura da Instituição, pois, a Instituição que se dedique no estudo e divulgação dos princípios do Espiritismo, em suas reuniões e práticas:

- não adota paramentos ou vestes especiais; - não utiliza bebidas alcoólicas, incenso, fumo; não tem altares, imagens, vela ídolos;

-não adota rituais; - não utiliza palavras exóticas para designar seres e coisas; - não atende a interesses materiais ou mundanos;

-não permite pagamento pela prestação de serviços de natureza espiritual; - não usa talismãs, amuletos, orações miraculosas;

-não administra sacramentos, indulgências; - não utiliza fórmulas, invocações, promessas ou despachos;

- não permite o uso de atos materiais utilizados em outras concepções religiosas.

Sendo uma doutrina religiosa, o Espiritismo não tem dogmas, nem liturgias ou sacerdócio organizado. Habitualmente, em seus trabalhos são efetuados estudos para o conhecimento das leis que presidem o destino do homem com base nas obras de Allan Kardec e das que lhes são subsidiárias. O estudo das obras básicas também pode acontecer nas doutrinas supracitadas, o que não invalida o aprendizado haurido, nem tampouco, as tornam solidárias com as características que acabamos de conhecer.

Portanto, o Espiritismo está sujeito a ser confundido com outras práticas, confusão que acabará somente quando a sociedade estiver informada do que é, verdadeiramente, Doutrina Espírita.