007 - O Mundo Espiritual

I - O MUNDO ESPIRITUAL:

Quando Jesus disse que o seu reino não era deste mundo, implicitamente queria dizer que era rei, mas do Mundo Espiritual, não efêmero como o dos encarnados, mas eterno, como eterno é o Espirito. Enquanto aqui nos degladiamos para conquistar o poder, o do mundo espiritual conquista-se pela inteligência e amor. E estes atributos destacam-se por si mesmos, quando atingimos a perfeição.

Da afirmação do Cristo, concluímos também que, se o seu reino é o do mundo espiritual, obviamente teremos que aceitar a existência da vida futura, porém, Jesus não se refere a um paraíso de ociosos, nem tampouco a um inferno eterno, mas, em planos de trabalho, que variam segundo as próprias condições evolutivas de cada pessoa.

Portanto, no mundo dos Espíritos não existe estagnação, mas constante atividade, que redunda na aquisição de conhecimentos, pois a evolução é eterna, porque, perfeição absoluta, somente a de Deus. Embora muitos rejeitem essa fórmula de céu e inferno, que os Espíritas denominam de planos superiores e inferiores, respectivamente, ela é a mais consentânea com a lógica, porquanto ficar numa ociosidade contemplativa seria um suplício para quem sempre manteve qualquer tipo de atividade, enquanto aqueles que fossem para o inferno, não teriam mais oportunidade de reabilitação, o que também contraria o que afirmamos de Deus, como sendo a Bondade Infinita.

Segundo o Espiritismo, todos, um dia, serão Espíritos Superiores, mesmo que isso represente milhares de existências carnais, neste ou em outros planetas. De qualquer maneira, é sempre uma esperança de dias melhores; portanto, poderemos estacionar, mas não indefinidamente.

Assim sendo, a Doutrina Cristã, interpretada à luz do Espiritismo, descortina-nos horizontes maravilhosos; daí encararmos a morte com naturalidade, pois ela poderá (se merecermos) representar a alegria de estagiar em planos venturosos, onde não existem as necessidades materiais a que os encarnados estão submetidos.

Nesses planos não existem atritos, as doenças, as guerras, a fome e tudo mais que infelicita o homem encarnado. Foi por isso que os cristãos primitivos enfrentavam as feras dos circos romanos, cantando hosanas a Cristo, porque estavam convictos de que encontrariam Jesus nas regiões celestiais quando deixassem as vestes carnais.

Livro: Reflexões Doutrinárias - Antonio Fernandes Rodrigues

II - O MUNDO INVISÍVEL:

A nossa época, fatigada dos devaneios da imaginação, das teorias e dos sistemas preconcebidos, propendeu para o cepticismo. Diante de qualquer afirmação reclama provas. Não lhe basta o mais lógico raciocínio, precisa de fatos sensíveis, diretamente observados, para dissipar as suas dúvidas; tais dúvidas se explicam: são a consequência fatal do abuso das lendas, das ficções, das doutrinas errôneas com que durante séculos se embalou a Humanidade. De crédulo que era, o homem, instruindo-se, tornou-se céptico, e cada teoria nova é acolhida com desconfiança, senão com hostilidade.

Não nos lastimemos desse estado de espírito, que não é, em suma, senão homenagem inconsciente prestada à verdade pelo pensamento humano. Com isso, a filosofia das existências sucessivas só tem a ganhar, porque, longe de ser mais um sistema fantasista, apóia-se num conjunto imponente de fatos, estabelecidos por provas experimentais e por testemunhos universais. O progresso da Ciência, em suas escalas inumeráveis, é comparável a uma ascensão em país de altas montanhas.

À medida que o viajante galga as árduas encostas, o horizonte se lhe alarga, os pormenores do plano inferior se confundem em vasto conjunto, enquanto novas perspectivas se desvendam ao longe. Quanto mais sobe, tanto maior amplidão e majestade adquire o espetáculo, assim a Ciência, em seu progresso incessante, descobre, a cada passo, domínios ignorados. Todos sabem quão limitados são os nossos sentidos materiais, como é restrito o campo que estes abraçam.

Além das cores e dos raios percebidos por nossa vista, há outras cores, outros raios, cuja existência é demonstrada pelas reações químicas. do mesmo modo, o ouvido só percebe as ondas sonoras entre dois extremos, além dos quais as vibrações sonoras, muito agudas ou muito graves, nenhuma influência exercem sobre o nervo auditivo. Se a nossa força visual não tivesse sido aumentada pelas descobertas da óptica, que saberíamos do Universo na hora presente?

Não só ignoraríamos a existência dos longíquos impérios do éter, onde sóis sucedem a sóis, onde a matéria cósmica, em suas eternas gestações, faz surgir astros por milhares, como também nada saberíamos ainda dos mundos mais vizinhos à Terra. Gradualmente e de idade em idade, tem-se estendido o campo da observação. Graças à invenção do telescópio, o homem tem podido explorar os céus e comparar o nosso mesquinho globo com as esferas gigantescas do espaço.

Mais recentemente, a invenção do microscópio abriu-nos um outro infinito; por toda parte, em torno de nós, nos ares, nas águas, invisíveis a nossos fracos olhos, miríades de seres pululam e agitam-se em turbilhões espantosos. Tornou-se possível o estudo da constituição molecular dos corpos; chegou-se a reconhecer que os glóbulos do sangue, os tecidos e as células do corpo humano são povoados de parasitas animados, de infusórios, em detrimento dos quais vivem ainda outros parasitas, ninguém pode dizer onde termina o fluxo da vida!

A Ciência progride, engrandece-se, e o pensamento por ela alentado sobe a novos horizontes, mas quão leve se apresenta a bagagem dos nossos conhecimentos, quando a comparamos com o que nos resta ainda a aprender! O Espírito humano tem limites, a Natureza não, com o que ignoramos das leis universais, diz Faraday, poder-se-ia criar o mundo. Os nossos sentidos grosseiros permitem que vivamos no meio de um oceano de maravilhas, sem mesmo suspeitarmos delas, como cegos banhados em catadupas de luz.

Depois da Morte - Léon Denis.