008 - As Leis Morais

Desde tempos imemoriais, a Ciência vem se dedicando exclusivamente ao estudo dos fenômenos do mundo físico, suscetíveis de serem examinados pela observação e experimentação, deixando a cargo da Religião o trato das questões metafísicas ou espirituais. Com o avanço científico nos últimos séculos, principalmente no XIX, o divórcio entre a Ciência e a Religião transformou-se em beligerância.

Apoiada na Razão, e superestimando os descobrimentos no campo da matéria, a Ciência passou a zombar da Religião, enquanto esta, desarvorada e ferida em seus alicerces - os dogmas sem prova -, revidava como podia, lançando anátemas às conquistas daquela, apontando-as como contrárias à Fé. Devido à posição extremada que tomaram e ao ponto de vista exclusivo que defendiam, Ciência e Religião deram à Humanidade a falsa impressão de serem irreconciliáveis e que os triunfos de uma haveriam de custar necessariamente, o enfraquecimento da outra.

Não é bem assim, felizmente. O Espiritismo, embora ainda repelido e duramente atacado, tanto pela Ciência como pela Religião ditas oficiais, veio trazer, no momento oportuno, preciosa cota de conhecimentos novos, do interesse de ambas, oferecendo-lhes, com isso, o elo de ligação que lhes faltava, para que se ponham de acordo e se prestem mútua cooperação, porque, se é exato que a Religião não pode ignorar os fatos naturais comprovados pela Ciência, sem desacreditar-se, esta, igualmente, jamais chegaria a completar-se se continuasse a fazer tábua rasa do elemento espiritual.

Graças ao Espiritismo, começa-se a reconhecer que o homem, criatura complexa que é, formada de corpo e alma, não sofre apenas as influências do meio físico em que vive, quais o clima, o solo, a alimentação, etc.. mas tanto ou mais as influências da psicosfera terrena, ou seja, das entidades espirituais - boas ou más - que coabitam este planeta (os chamados anjos ou demônios), as quais interferem em seu comportamento em muito maior escala do que ele queira admitir. Daí a recomendação do Cristo: "orai e vigiai para não cairdes em tentação".

Graças ainda ao Espiritismo, sabe-se, hoje, que o espírito (ou alma) não é mera "função" do sistema sensório-nervoso-cerebral, como apregoava a pseudo-ciência materialista, nem tão pouco uma "centelha" informe, incapaz de subsistir por si mesma, como o imaginavam as religiões primevas ou primárias, mas sim um ser individualizado, revestido de um substância quintessenciada, que, apesar de imperceptível aos nossos sentidos grosseiros, é passível de, enquanto encarnado, ser afetado pelas enfermidades ou pelos traumatismo orgânicos, mas que, por outro lado, também afeta o indumento (soma) de que se serve durante a existência humana, ocasionando-lhe, com suas emoções, distúrbios funcionais e até mesmo lesões graves, como o atesta a psiquiatria moderna ao fazer medicina psicossomática.

Quanto mais o homem desenvolve suas faculdades intelectuais e aprimora suas percepções intelectuais e aprimora suas percepções espirituais, tanto mais vai-se inteirando de que o mundo material, esfera de ação da Ciência, e a ordem moral, objeto especulativo da Religião, guardam íntimas e profundas relações entre si, concorrendo, um e outra, para a harmonia universal, mercê das leis sábias, eternas e imutáveis que os regem, como sábio, eterno e imutável é o Seu legislador. Não pode nem deve haver, portanto, nenhum conflito entre a verdadeira Ciência e a verdadeira Religião.

Sendo, como são, expressões da mesma Verdade Divina, o que precisam fazer é dar-se as mãos, apoiando-se reciprocamente, de modo que o progresso de uma sirva para fortalecer a outra e, juntas, ajudem o homem a realizar os altos e gloriosos desatinos para que foi criado. Rodolfo Calligaris