009 - O MÉDIUM

O médium não possui senão a faculdade de se comunicar; a comunicação efetiva depende da vontade dos Espíritos, se os Espíritos não querem se manifestar, o médium nada obtém; é como um instrumento sem músico. A facilidade das comunicações depende do grau de afinidade que existe entre os fluídos do médium e do Espírito, cada médium está, assim mais ou menos apto para receber a impressão ou impulso do pensamento de tal ou tal Espírito; ele pode ser um bom instrumento para um e mau para um outro. Disso resulta que, dois médiuns igualmente bem dotados, estando um ao lado do outro, um Espírito poderá se manifestar por um e não pelo outro.

É, pois, um erro crer que basta ser médium para receber com igual facilidade as comunicações de todo Espírito; não existem médiuns universais; os Espíritos procuram, de preferência, os instrumentos que vibrem em uníssono com eles. Sem a harmonia, que só a assimilação fluídica pode proporcionar, as comunicações são impossíveis, incompletas ou falsas; podem ser falsas porque, à falta do Espírito desejado, não faltam outros, prontos pra aproveitarem a ocasião de se manifestarem, e que pouco se importam em dizer a verdade.

Um dos maiores escolhos da mediunidade, é a obsessão, quer dizer, o império que certos Espíritos podem exercer sobre os médiuns, impondo-se a eles sob nomes apócrifos e impedindo-os de se comunicarem com outros Espíritos; o que constitui o médium, proprimente dito, é a faculdade; sob esse aspecto, ele pode estar mais ou menos formado, mais ou menos desenvolvido. O que constitui o médium seguro, o que se pode verdadeiramente qualificar de BOM MÉDIUM, é a aplicação da faculdade, a aptidão de servir de intérprete dos bons Espíritos.

A Mediunidade é uma faculdade essencialmente móvel e fugidia, pela razão de estar subordinada à vontade dos Espíritos; por isso é que está sujeita a intermitências; esse motivo, e o princípio mesmo segundo o qual se estabelece a comunicação, são os obstáculos a que se torne uma profissão lucrativa, uma vez que não poderia ser nem permanente, nem aplicável a todos os Espíritos, e porque poderia faltar no momento em que dela se tivesse necessidade. Aliás, não é racional admitir que os Espíritos sérios se coloquem à disposição da primeira pessoa que os queira explorar.

A propensão dos incrédulos, geralmente, é suspeitar da boa fé dos médiuns, e supor o emprego de meios fraudulentos; além de que, no entendimento de certas pessoas essa suposição é injuriosa, é preciso, antes de tudo, perguntar qual interesse poderiam eles ter para enganarem e divertirem ou representarem a comédia. A melhor garantia de sinceridade está no desinteresse absoluto, porque aí onde nada tem a ganhar, o charlatanismo não tem razão de ser. Quanto à realidade dos fenômenos, cada um pode constatá-la, se se coloca nas condições favoráveis, e se aplica a paciência na observação dos fatos, a perseverança e a imparcialidade necessária.

Em resumo, Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade, é médium. Esta faculdade é inerente ao homem; por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar. Pode-se dizer, pois, que todos são mais ou menos médiuns; usualmente, porém essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada (aflorada), que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva.

Deve-se notar, ainda, que essa faculdade não se revela em todos da mesma maneira; os médiuns têm, geralmente, aptidão especial para esta ou aquela ordem de fenômenos, o que os divide em tantas variedades quantas são as espécies de manifestações. As principais são: médiuns de efeitos físicos, médiuns sensitivos ou impressionáveis, auditivos, falantes, videntes, sonâmbulos, curadores, pneumatógrafos, escreventes ou psicógrafos.

Allan Kardec - O que é o Espiritismo

FORMAÇÃO DOS MÉDIUNS

OBSERVAÇÃO: As classificações mediúnicas são naturalmente variáveis, sofrendo a influência dos costumes e condições de épocas e países. Kardec oferece acima uma pequena classificação em linhas gerais (no Livro dos Médiuns, Capítulo XVI, ela é maior), e alguns nomes foram alterados ou já se modificaram.