018 - Rituais, festas, símbolos e textos sagrados.

1 - HISTÓRICO: LÉON DENIS E O CASAMENTO ESPÍRITA:

Alguns leitores podem estranhar o fato do casamento ter ocorrido numa casa espírita, mas é bom que se esclareça que, naquele tempo, tal fato era mais comum. Muitas cerimônias religiosas por força da tradição e dos costumes provocam ainda hoje na alma popular um misticismo fulgurante. São como catalizadores necessários para muitas pessoas que se deixam prender pelas misteriosas linhas da esperança e da fé, na realização de seus sonhos.

No mundo ocidental, a força do casamento religioso, principalmente na Igreja Católica, ainda se faz sentir na sociedade. São motivos que marcam os registros das relações sociais, das festas e comemorações sempre lembrados, como reforço e incentivo de sustentação da união, como também para os galanteios dos presentes. Na fase inicial, por causa da tradição, os casamentos dos espíritas estavam ligados aos católicos. Léon Denis, um dos mais proeminentes representantes, depois de Allan Kardec, o Codificador da Doutrina Espírita, escreveu, no início do século passado, o livro Síntese Doutrina e Prática do Espiritismo e nele menciona uma prece que poderia ser feita nos casamentos.

Dizia a prece, no seu início: -"Abençoa esta união. Senhor; torna-a feliz e fecunda e que dela resulte uma linhagem de seres que sejam, em nossa época pervertida e perturbada, exemplos de sabedoria e de virtudes. O amor é um raio divino que envolve todos os seres. Por toda a parte, onde ele penetra, ilumina a vida e traça para as almas o caminho das celestes moradas. O amor conjugal é um reflexo do Alto, porque é dele que provém a família, princípio de toda a civilização".

Ao concluir a prece, escreveu Léon Denis: -"O homem não deve ocultar nenhum recôndito de sua alma para sua esposa, nem ela a seu marido. É, pois, necessário que o casamento seja o ato mais grave da vida de vocês. Que Deus os proteja e os sustente, a fim de manter um lar puro e santo". Estas palavras provavelmente serviram de bênção para muitos casais espíritas do início do século, mas depois de mais de um século de existência do Espiritismo, uma boa parte dos espíritas já se libertou dos rituais sacros, mas outra parte ainda carrega, nos atos diários, as maneiras e gestos da tradição social.

Convenhamos que isto é muito natural, pois ninguém muda sua tendência de comportamento de uma hora para outra, ainda que esteja querendo conhecer a verdade através dos estudos.

2 - PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO ESPIRITISMO:

Aqueles que aprendem os princípios fundamentais do Espiritismo, de modo geral, se desapegam dos rituais porque, fundamentalmente, a religiosidade espírita decorre da ação mental, que liga a criatura ao Criador, não exigindo qualquer apetrecho vinculativo como sinais, gestos, imagens, paramentos, altares, defumações, banhos e tantos outros. A fé espírita é raciocinada e as aparências de nada valem.

No mais, cada dia novos adeptos aderem às fileiras espíritas, conforme registram as estatísticas, principalmente pela aceitação da reencarnação, da comunicabilidade mediúnica e da existência real do Mundo dos Espíritos, de onde eles influenciam a vida dos homens de forma efetiva. Todos estes novos adeptos trazem n'alma o peso da religiosidade anterior. Por isto, a tradição do casamento religioso ainda subsiste, mesmo entre alguns espíritas, conquanto não seja aceito, como prática ritual dentro da Codificação.

Não se pode negar que alguns casais ainda preferem os casamentos da Igreja, seja pela pompa, seja pela tradição social, por isto se justificam com os batizados, os cursos e a promessa de educação dos filhos dentro dos padrões recomendados. Assim preparam as festas com seus convidados para tão importante evento. Outros, depois do casamento civil, buscam nos Centros Espíritas as bênçãos da família espiritual, certos de que o passo dado corresponde aos projetos anteriores a comunhão esponsalícia atual.

Por fim, outra parte fica somente com o casamento civil, reconhecido pelo Estado, e fazem a festa das bodas com a mesma alegria, conscientes de que a sua união também está sendo abençoada pelos amigos espirituais. Se, naquele tempos tais práticas eram comuns, hoje, todavia, se algum casamento entre espíritas se realizar em algum lugar, numa Igreja ou num Centro, fora do Cartório de Registro Civil dos casamentos, por certo, não será tido por ato indissolúvel, como aquilo que o homem não deve separar porque Deus juntou.

O Espiritismo não se opõe ao divórcio, conquanto defenda a tese de que o casal deve fazer o máximo empenho para evitá-lo. Nenhuma união conjugal acontece por acaso. Existe sempre uma relação de causa e efeito ou uma proposta espiritual a ser alcançada. Se ocorrer a separação, o responsável assume a responsabilidade por seu livre-arbítrio e atuação. A leitura do Evangelho mostra que nem Jesus consagrou a indissolubilidade absoluta do casamento, admitindo que a separação podia acontecer se não houvesse mútua afeição.

Durval Ciamponi

3 - NOÇÕES GERAIS DE ESPIRITISMO - PÚBLIO CARÍSIO DE PAULA

ASPECTOS PRÁTICOS DO ESPIRITISMO: Toda ciência, filosofia ou religião historicamente, quando sai do campo teórico para o prático, corre o risco de ser mal exercida. A prática irregular da teoria pode levar a uma má interpretação dos objetivos e metas da seita. Com o Espiritismo não é diferente. Devido ao grande número de seitas espiritualistas e outras tantas que têm a mediunidade como prática usual, muitas pessoas confundem-nas com a Doutrina Espírita.

Os cultos brasileiros da Umbanda têm seus próprios princípios claramente expostos em literatura específica e não podem ser associados ao Espiritismo. O Candamblé e outros cultos, igualmente herdados de outros povos do continente africano não têm nenhuma associação com a Doutrina codificada por Allan Kardec. Outras manifestações orientais o do Caribe, não têm nenhuma ligação direta com o Espiritismo. Todas as aqui mencionadas, naturalmente são nobres e têm suas manifestações resguardadas pelo direito e liberdade de profissão de fé, no entanto, devem ser vistas como independentes do assunto de que se trata essa obra.

Quando ocorra que leiamos diante de um templo a seguinte inscrição "Centro Espírita de Umbanda fulano de tal ou Tenda Espírita de Candomblé X, é ideal que compreendamos a possibilidade de engano quanto à nomenclatura da Instituição, pois, a Instituição que se dedique no estudo e divulgação dos princípios do Espiritismo, em suas reuniões e práticas:

- não adota paramentos ou vestes especiais; - não utiliza bebidas alcoólicas, incenso, fumo; não tem altares, imagens, vela ídolos;

-não adota rituais; - não utiliza palavras exóticas para designar seres e coisas; - não atende a interesses materiais ou mundanos;

-não permite pagamento pela prestação de serviços de natureza espiritual; - não usa talismãs, amuletos, orações miraculosas;

-não administra sacramentos, indulgências; - não utiliza fórmulas, invocações, promessas ou despachos;

- não permite o uso de atos materiais utilizados em outras concepções religiosas.

Sendo uma doutrina religiosa, o Espiritismo não tem dogmas, nem liturgias ou sacerdócio organizado. Habitualmente, em seus trabalhos são efetuados estudos para o conhecimento das leis que presidem o destino do homem com base nas obras de Allan Kardec e das que lhes são subsidiárias. O estudo das obras básicas também pode acontecer nas doutrinas supracitadas, o que não invalida o aprendizado haurido, nem tampouco, as tornam solidárias com as características que acabamos de conhecer.

Portanto, o Espiritismo está sujeito a ser confundido com outras práticas, confusão que acabará somente quando a sociedade estiver informada do que é, verdadeiramente, Doutrina Espírita.