CAPÍTULO II
A POLÍTICA DAS BEM-AVENTURANÇAS

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus.
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados.
Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra.
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos.
Bem-aventurados os misericordiosos porque eles alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.
Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é
o reino dos Céus. (Mateus, 5:3-10).

Abrem-se as portas do tempo, e o novo milênio é recebido com a oferta e o tributo da insensatez humana, Mas, ante a visão espiritual, as lágrimas e provações que vêm ao encontro de nossos irmãos apenas refletem a nossa necessidade de Jesus, a sede de Deus e a urgência de se fazer paz e silêncio no clima tempestuoso dos corações humanos.

À semelhança dos dias antigos da Galiléia, quando Pedro, Tiago e João enfrentavam o mar revolto e as tempestades ameaçadoras, a nau da embarcação terrestre está soçobrando, balançando, a enfrentar a fúria advinda dos corações dos filhos da Terra.

Também àquela época recuada no tempo, em Genesaré, os apóstolos, simbolizando todos nós, os filhos da Terra, aguardavam a intervenção divina.

A tempestade ameaçava a estabilidade do barco dos pescadores quando o Mestre assumiu o comando da natureza e, pacificando os elementos com a firmeza do seu amor, acalmou os corações amedrontados dos seus seguidores.

Precisamos de Jesus, do seu comando, de sua direção. O mundo ainda não está preparado para seguir a sua marcha sem a referência preciosa do coração do Mestre.

Para que a paz se estabeleça no mundo e a guerra ceda o seu terreno para o estabelecimento do amor, é preciso falar de Jesus, viver Jesus e respirar Jesus por todos os poros da alma.

Não basta realizar caminhadas pela paz se não exercitarmos a paz na família. Não adiantará clamar contra a guerra sem fazer silêncio na alma para ouvir a voz do Divino Timoneiro.

O mundo nunca precisou tanto de Jesus quanto hoje.

Há que se estabelecer a paz definitiva em nossos corações, relembrando Jesus acalmando as tempestades. É momento de auxiliar o Mestre em sua campanha permanente de não-violência e o recebermos em nossas vidas, corações e almas.

Quando o Mestre Jesus veio fazer a pregação do reino de Deus, Ele trazia à Terra uma nova proposta de vida. O reino dos Céus ou reino de Deus (Questionado sobre o uso das expressões reino de Deus e reino dos Céus de modo indistinto - o que não faz em outros momentos -, o espírito Estevão argumentou que preferiu, devido à natureza deste livro, não fazer diferença entre ambas, especificidade que seria apropriada apenas numa obra de conteúdo analítico. [Nota da editora]) representa a atuação das forças soberanas da vida para implantar no planeta o reino do amor.

O homem terrestre, acostumado há séculos com as questões de ordem material, não tinha olhos de ver nem ouvidos de ouvir. Para perceber a influência do Alto sobre as vidas dos homens é necessário lançar mão de sentidos diferentes. Novos olhos e novos ouvidos, ou - quem sabe? - novas percepções e sentidos mais sutis, sensíveis.

O reino dos Céus, na Terra, é um reino real. Esse reino, para que o possamos compreender, podemos visualizá-lo como um governo interior, pois tal reino está alicerçado na realidade íntima, psíquica, intuitiva; portanto, espiritual. Porém, para que determinado governo tenha uma ação real e direta na vida comunitária, é preciso que haja uma lei e um legislador.

As bem-aventuranças refletem os princípios ou as leis sobre as quais se estrutura o reino divino. Refletem estados íntimos da alma humana em busca da alma divina do universo. Quando Jesus pronunciava as bem-aventuranças, realizava a pregação de sua plataforma política. Sim, de uma política divina, interna, subjetiva. A política humana era alicerçada em leis criadas pelo próprio homem e que os próprios legisladores das difusas nações desobedeciam - leis humanas para governos humanos; leis divinas para um reino divino.

"Bem-aventurados os mansos e pacíficos; bem-aventurados os simples de espírito ... "

A lei divina que estrutura a realidade do novo homem, do Homo spiritualis, é uma lei natural, pois que é a expressão da simplicidade, a manifestação da mansuetude, a exteriorização dos estados internos da alma humana.

Baseada em tal realidade, ao longo dos séculos a lei do amor reconstruiria, por sobre as cinzas das sociedades humanas falidas, um novo reino, um novo governo, uma nova raça de homens.

As bem-aventuranças, vividas em sua simplicidade, inauguraram na Terra uma nova etapa de vida. Era o início da era do espírito imortal. A não-violência que se refletia na mansidão, na sapiência, na excelência dos valores espirituais.

Que se procure estudar cada palavra do sermão de Jesus e, em específico, das bem-aventuranças. Assim poderemos compreender a grandeza do reino de amor que o Cristo inaugurou no mundo há dois mil anos.

Estevão