CAPÍTULO III
MARIA DE MAGDALA

Depois disto andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia,
pregando e anunciando o Evangelho do reino de Deus. Os doze iam com
ele, e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos
malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram
sete demônios; Joana, mulher de Cuza; procurador de Herodes; Susana,
e muitas outras as quais o serviam com seus bens. (Lucas, 8:1-3).

A Judéia vivia momentos incomuns. As águias romanas, espalhadas aos ventos, tremulavam as flâmulas dos soldados e generais de César, atestando a violência que imperava nos corações e a coerção espiritual que caracterizava os povos de então.

Caius Julius Caesar Augustus, o Divino Imperador, espírito rebelde por natureza, já sentia em si o refluxo da própria altivez. Deixando-se influenciar pelas vibrações suaves que se aproximavam da Terra, transformou-se lentamente num esteta, no poeta e novo homem que passou a modificar o panorama interno do império romano. Aos poucos, sob a influência de uma aura magnânima e divina, as águias de Roma foram sendo depostas e a civilização da época conheceu um tempo de suavidade, que marcou aqueles anos sob a influência do Cristo.

Aproximando-se do planeta, chorando na manjedoura, dele foi a voz infantil que abalou para sempre o trono de César e depôs a altivez dos orgulhosos. Diante dele curvaram-se os maiores representantes dos poderes terrestres e ante a sua voz submeteram-se as entidades perturbadas e perturbadoras da marcha humana.

Suavemente Ele foi caminhando entre a multidão, e, sem sair dos limites estreitos da Judéia, sua influência conseguiu atingir todo o planeta, mundo de desterro dos filhos de Eva.

Naqueles dias, vivia na cidade de Magdala uma mulher incomum. Acostumada ao luxo e ao fausto, vendia-se para a soldadesca exigente e os generais aquinhoados de ouro e de prata, na ânsia de encontrar a felicidade. No entanto, quanto mais se dividia entre os cuidados do corpo, em seu palacete em Magdala, mais sua alma desejava o toque da suavidade e ansiava o encontro com o homem com o qual sonhara durante toda a sua existência.

Convidada por Mnair, o sábio persa que a visitara em seu lupanar, Maria acorreu para a vila de Cafarnaum, local que para sempre ficaria registrado em sua alma sensível e especial. Lá chegando, buscando em sua eterna caminhada, aquela alma feminina, cansada dos caminhos tortuosos aos quais se entregara, encontrou a casa singela de Barjonas, a pousada do céu entre as montanhas da Galiléia e as margens do Tiberíades.

Naquela tarde o sol dardejava seus raios dourados, que eram filtrados por entre as folhas das palmeiras e tornavam os cabelos daquele homem uma poeira de estrelas, refletindo o brilho do sol na cor amendoada de seus olhos penetrantes. As madeixas caíam-se-lhe sobre os ombros, e um largo sorriso estampava-se em seus lábios, que falavam, embora não articulassem qualquer palavra, no silêncio eloqüente típico das almas evolvidas.

Maria, quedando-se na entrada da vivenda de Barjonas, viu o reflexo das estrelas nos olhos e cabelos daquele homem incomum. Sua voz, murmurando algumas palavras, penetrou-lhe qual espada afiada na alma aflita, promovendo a cirurgia profunda no espírito enfermo:

- Maria! Como eu esperei por ti.

- Raboni! - respondeu-lhe a mulher, cujos olhos fixos no infinito, que se estampou no olhar daquele homem, pareciam mergulhar na eternidade.

O encontro da Terra e do céu fez com que as algemas do passado fossem rompidas, e a transformação das sombras em divinas claridades ficou para sempre registrada na luz astral, imaterial, que percorre o universo, atestando o poder do amor imensurável do Mestre.

Após breve diálogo, pois as grandes almas não têm necessidade de palavras complicadas, Maria retorna a Magdala, desfaz-se de seu palacete e doa suas jóias e seus bens aos miseráveis do caminho. Retorna à Galiléia e volta aos caminhos de Cafarnaum, procurando seguir as pegadas do rabi pelos recantos do mundo. Por onde quer que Ele andasse, uma sombra silenciosa de mulher o seguia, e após um a um de seus discípulos o abandonarem entre a chibata do verdugo e a revolta do mundo, ela, Maria de Magdala, se transforma na mensageira da ressurreição, a emissária divina para a boa-nova do reino do amor, que se estabelecia na Terra.

Quando o Rabi e senhor do mundos retoma às estrelas, prossegue Maria, mãe Maria, amparando e servindo, entre os portadores de moléstia física e contagiosa, deixando desabrochar em sua face as marcas do amor, transubstanciando sua alma dia a dia num anjo de luz que abre suas asas sobre o panorama dos sofrimentos humanos.

Os séculos passam, e os homens, esquecidos da simplicidade dos ensinos do Mestre, registram novamente a presença da mensageira da ternura, que se materializa na terra de Avila, trazendo ao mundo o exemplo ímpar de sua alma experiente. Teresa d' Avila se faz portadora da mensagem de Jesus e da caridade e ternura de seu espírito para os pobrezinhos daquela época.

Uma vez mais os tempos se renovam. O mundo conhece guerras e clamores, e as almas sofridas pranteiam, perdidas e necessitadas dos bafejos dos céus. Jesus convoca sua mensageira celeste, e, respondendo ao chamado do coração, Maria de Magdala, mais tarde Teresa d'Ayila, materializa-se no mundo entre os tempos difíceis que antecedem o novo milênio como Teresa de Calcutá, Teresa dos pobres, Teresa de todos nós.

Levando a mensagem de esperança e ressurreição aos filhos do desterro, a mensageira da esperança e da boa-nova honra o chamado divino e traz luz à Terra, deixando seu rastro de estrelas nas pegadas que marcaram para sempre a história do mundo.

Hoje entre as estrelas, brilhando entre as constelações, sua alma retempera-se na presença do rabi da Galiléia, a fim de retornar novamente à Terra, auxiliando no estabelecimento definitivo do reino do espírito na nova era que marca o surto evolutivo do planeta.

Maria de Magdala, Teresa d' Á vila, Teresa de Calcutá, dos pobres, o lápis de Deus, vive entre as estrelas, deixando as marcas de sua luz, que clareia os corações sofridos, marcando para sempre a senda da ressurreição, que alegra os destinos dos homens.

Estevão