CAPÍTULO IX
A - MARIA DE NAZARÉ

No sexto mês foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi. O nome da virgem era Maria. Entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada ! O Senhor é contigo. Bendita és tu entre as mulheres. Porém, ela se perturbou muito com essas palavras e considerava que saudação seria essa. Disse então o anjo: Maria, não temas, achaste graça diante de Deus. Conceberás e darás a luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus. Este será grande, e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará eternamente sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. Disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre o ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que de ti há de nascer; será chamado Filho de Deus. Até Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice, sendo este o sexto mês para aquela que era considerada estéril. Pois para Deus nada é impossível. Disse, então, Maria: Eu sou a serva do Senhor. Cumpra-se em mim segundo a tua palavra. LUCAS 1:26-38

Ao ouvir Isabel a saudação de Maria, a criancinha saltou no seu ventre, e Isabel foi cheia do Espírito Santo.

Exclamou ela em alta voz: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre. De onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? (. .. )

Disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador, pois olhou para a humildade da sua serva. Desde agora todas as gerações me chamarão bem-aventurada, pois grandes coisas me fez o Poderoso. LUCAS 1:41-43,46-49.

Ela era uma estrela. Talvez uma estrela perdida nas constelações do firmamento. Perdida sim, pois o seu amor irradiava-se em mundos do infinito, não lhe permitindo ficar parada, fixa, na inércia. Era uma estrela errante que tinha sua morada entre os astros da imensidade. De onde viria essa estrela cadente, misteriosa? De quais espaços, universos ou dimensões viria a estrela virginal? Não importa. Talvez de Sírius, Canopus ou Aldebarã, de qualquer lugar; de todo lugar, de todas as épocas.

Ela trazia na face a suavidade do luar e a beleza das alvoradas. Revestiu-se de esplendoroso manto estrelado e desceu para a morada dos homens. O firmamento teceu-lhe uma coroa de luz e enfeitou-lhe a fronte com o véu da via-láctea .

A natureza suavizou o seu caminho tecendo um tapete de flores; o aroma das rosas, das acácias e dos lírios perfumou-lhe a existência, e, desse aroma indescritível, inexprimível no vocabulário humano, formou-se o seu corpo, com o qual conheceu os filhos do desterro.

E ela chegou. Embalada no canto dos rouxinóis, suas palavras lembravam o cantar das rolas e o trinar dos pardais. A estrela assumiu morada no coração da humanidade.

É Maria. Simplesmente, Maria. Sua vida transformou-se em símbolo de ternura e esperança para os deserdados. Seus pés caminharam sobre os espinhos das roseiras e sangraram no contato com os caminhos tortuosos e difíceis dos filhos da Terra.

Deixou sua marca, indelével, nas vidas das mulheres de todas as origens, de todos os povos. Em sua pessoa, a mulher alcançou as estrelas e, através de sua santíssima maternidade, divinizou a expressão de mãe.

Amparada pelos rouxinóis e pássaros canoros, rasgou a sombra da amargura e teceu o manto alvo e pulcro da via dolorosa de todas as mães da Terra.

Estrela, apagou-se entre as sombras e a escuridão das vidas sofridas, a fim de que o homem não se sentisse humilhado ante a grandeza de sua alma.

Experimentou o esforço inaudito de ser a mãe dos pecadores, a fim de conduzir o homem terrestre no caminho das estrelas.

É Maria. Simplesmente, Maria.

Estevão